quinta-feira, 23 de outubro de 2014

QUASE SEM QUERER - Legião Urbana


O ano era 2005, março para ser exata. Eu uma jovem de dezesseis anos, quase dezessete, último ano do Ensino Médio, um milhão de decisões há serem tomadas, excluída do grupo escolar, ao menos de um dos períodos escolares, visto que havia tomado a "brilhante" decisão de estudar três períodos. Sentindo-me esgotada física, psicologica e emocionalmente, sentindo o peso de todas as escolhas imprudentes, impensadas e inconsequentes já tomadas e temendo profundamente repeti-las (o que acabei por fazer).
Contudo em meio a este turbilhão de coisas, tenho algumas horas de tranquilidade, alcançadas devido a mais decisões erradas (havia faltado nas aulas da manhã - Ensino Médio), enquanto preparava o almoço, já quase me atrasando para as aulas da tarde (SENAI), ouço essa música - QUASE SEM QUERER.
Vivenciei um daqueles momentos raros de catarse, ou a versão de alguém de dezesseis anos. Identificação com uma música que te leva as lágrimas, depois a uma felicidade ilógica e finalmente a perplexidade. Não podia acreditar o quanto Renato Russo poderia me conhecer e me descrever, todos os sentimentos conflitantes de insegurança e segurança, que beiravam a arrogância. "Quando o que eu mais queria...era provar pra todo mundo...que eu não precisava... provar nada pra ninguém".
Infelizmente momentos depois de ouvir a música, pesquisar a música na internet, ouvi-la repetidas vezes, fiz o esperado...especialmente pelo autor da música "fiz questão de esquecer...que mentir pra si mesmo...é sempre a pior mentira" e recomecei a tentar me convencer de que as minhas más escolhas nada tinham haver com meus problemas, mas que o mundo era mau, assim como as pessoas eram más e injustas...
Dois meses depois, após o ápice dos problemas, cumulado com um toque de inferno astral...Fui convencida de que estava certa e o mundo era mau, assim como as pessoas eram más e injustas, então encontrei uma "válvula de escape" de todos estes problemas e embora continuasse a repetir meus erros, e a cometer muitos erros novos (inúmeros erros novos), sentia que "agora é diferente...estou tão tranquilo...e tão contente".

Hoje nove anos depois, percebo que pouco, ou quase nada mudei. Ainda, sinto que desperdicei muito, muito, muito tempo tentando provar para todo mundo, que não preciso provar nada para ninguém, tentando me convencer de coisas, que são mentiras, tentando sair da minha confusão habitual. Sobretudo esse ano, ano de transformações, grandes transformações na minha vida, ano de escolhas que definirão boa parte do meu futuro, novamente me sinto ameaçada e amedrontada não pelas novas escolhas, mas pelas escolhas passadas...Percebo, ainda, que dei crédito a "válvula" errada. Passei os últimos dez meses temendo este ano, temendo a mim mesma, e revivendo emoções tão, tão pesadas, e duvidando profundamente se seria capaz de transpor todas elas sozinha, sem minha "válvula" e hoje, ouvi novamente essa música, relembrei tudo isso, decidi escrever e percebi que há dez anos assumi um compromisso com alguém perfeito, que todos os dias repete "eu vejo o mesmo que você" e acrescenta "eu vejo além do que você vê, eu quero ser sua válvula e sua bússola". Passei o ano desejando e pedindo a mesma "válvula" que recebi há nove anos, desejando algo que pensei ter perdido, que substituí e perdi o substituto, quando na verdade nunca precisei substituir, desejar ou pedir...porque nunca perdi, apenas não havia reconhecido o que verdadeiramente havia me dado forças, quem estava ao meu lado, quem me colocou na direção certa e mesmo eu me desviando, voltou comigo pelo caminho errado até encontrar o desvio certo...

Deus, desculpe-me por demorar a reconhecer seu toque suave, e muito obrigada por ser paciente, constante, e bondoso...

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