Há algumas semanas podemos ver na
mídia e nas redes sociais imagens assustadoras das pilhas de roupas que
transformam a paisagem do deserto do Atacama, e assim ressurgir a preocupação
com o consumismo e as consequências para o planeta.
São levantadas questões
ambientais, sociais e econômicas, muitas acusações, reprovações e poucas
soluções.
Eis que essa semana sou convidada
a assistir um documentário: “A conspiração da Lâmpada” disponibilizada pelo
canal do youtube “Consciência Universal”.
Deve estar se perguntando o que
raios é conspiração da lâmpada e qual a relação com o deserto do Atacama.
Primeiro: Já ouviu falar em obsolescência
planejada ou programada?
A obsolescência planejada ou
programada acontece quando um produto tem uma predisposição para substituição
em um curto período de tempo, ou seja, irá se tornar obsoleto dentro de um
período programado pela falha do produto ou mudança de designer.
Pois bem, segundo este
documentário a lâmpada foi o primeiro produto em que a obsolescência programada
foi aplicada. Fabricantes de lâmpadas formaram um cartel em 1924 e concluíram
pela necessidade de redução da vida útil das lâmpadas para 1.000 horas e a
interrupção de pesquisas que visassem aumentar essa vida útil.
A indústria de automóvel também é
revolucionada por essa ideia, a GM passa a trazer opções de modelos e cores,
dando forma a ideia de que os veículos deveriam ser trocados a cada três anos.
As empresas assim como nós são
orientadas por valores, neste caso o valor econômico a busca por eficiência nas
vendas e geração de lucro, sobrevivência financeira em longo prazo.
Nasce a ideia de crescimento infinito
do mercado e do lucro. Mas quais as consequências disso?
Inovação, indiscutível que essa é
uma das consequências. Quando pensamos em cientistas, químicos e engenheiros
nós pensamos: em avanços tecnológicos, pesquisas, inovação, descobertas,
melhorias. Correto?
Nesse ponto nos deparamos com um
conflito e quando essas pesquisas, descobertas, inovações, melhorias e avanços
colocam em risco o mercado, todo um setor de produção e vendas?
Vamos a um exemplo: o
documentário traz o exemplo do setor têxtil que com a descoberta do nylon extremamente
resistente viu ameaçado a produção e venda de alguns produtos e iniciou pesquisas
para tornar esse material menos resistente e retornar ao status quo.
Quais os valores desses cientistas,
químicos e engenheiros? Manter seus trabalhos e realizar pesquisas tão
desafiadoras quanto, mas contrárias ao impulso natural de melhoria ou desafiar
um sistema?
Segurança e sobrevivência são
valores básicos que guiam a maioria de nossas decisões.
Na década de 50, Brooks Stevens
tornou a ideia da troca constate, visto que um produto é regularmente
atualizado e melhorado algo natural e na verdade desejado pelos consumidores.
Afinal quem não quer uma televisão 10 polegadas maior, ou um celular mais
rápido?
Atenção: outro conflito a vista!
Desejamos um crescimento infinito do mercado, uma melhora constante dos
produtos e consequentemente o descarte constante de produtos, mas vivemos em um
planeta com recursos e espaço finito. Esse sistema possui sustentabilidade?
Percebe agora a correlação dos
temas? Exatamente o Chile recebe toneladas de roupas que são descartadas no
deserto do Atacama, Gana recebe toneladas de eletrônicos sucateados, e com
certeza poderemos encontrar outros exemplos.
O meio ambiente sofre, com o
consumo desregulado. Matérias primas são extraídas e nossos suprimentos finitos
diminuem, toneladas de produtos se tornam lixo e encontram destinos em locais
isolados como o Atacama ou ignorados como Gana, gerando mudanças radicais na
paisagem, nos recursos ambientais e na sociedade do local.
Quais valores são prioridade
enquanto sociedade? Qual o destino dessa priorização?
Países Europeus e os Estados
Unidos descantam seu lixo eletrônico em Gana de forma irregular, pois enviam
esse material como produtos de segunda mão, contudo menos de 20 % realmente tem
condições de reaproveitamento. Qual a consciência ambiental e social desses
países? As ações estão alinhadas aos discursos ambientais? Realizar mudanças urbanísticas
em seus países, mas ignorar o impacto que seu descarte causa a outros países está
em harmonia?
Algumas pessoas têm feito essas
perguntas, refletido e pensado soluções. Algo que parece senso comum é que o
planeta tem dado sinais de que essas perguntas devem ser pauta mundial, e em
alguma medida tem sido.
Contudo parece que as conclusões
são novas perguntas: Reduzir o impacto ambiental é possível sem uma mudança de
valores? Sem uma mudança no sistema econômico financeiro?
Resolver um conflito de valores
parece uma tarefa impossível, mas aproximasse o dia que sobrevivência e segurança
podem não ser mais opções.
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